ALL THAT WE DO NOT REMEMBER – Iris Buchholz Chocolate

22 Jul, 2022 - 27 Aug, 2022

De Terça a Sexta. Das 12h às 19h

Sábado das 11h às 19h

A instalação ‘Tudo aquilo de que não nos lembramos’ surge a partir do trabalho em papel ‘Estação das Chuvas.’ Produzido este ano e inspirado na obra homónima de Agualusa, a obra em papel da artista consegue explorar nos seus tons de azul real a sensação de água da chuva ou se pensarmos na obra do autor Agualusa, as lágrimas do tempo. Em ‘Tudo aquilo de que não nos lembramos’ tudo isso é ampliado, as chuvas que lavam e limpam e as lágrimas que enfraquecem, derrotam e renovam a alma.

A artista Iris Buchholz Chocolate habituou-nos no seu trabalho a um exercício de memória, um exercício que simultaneamente exige olhar para trás e imaginar a partir dos elementos que nos restam. Uma prática que ultrapassa a pesquisa e recolha de dados, e que estabelece relações concretas com os traços e resquícios do tempo. Nesta exposição esse gesto exige um pouco mais, a própria obra exige de nós a imersão e remete-nos para o seu interior, mas também para uma memória primeira de nós mesmos. Aqueles momentos ao nascer em que estamos profundamente ligados a algo maior que nos protege, a uma mulher, mãe que é até então apenas imaginada, ouvida, tocada. Essas são as dimensões que esta obra explora, a imaginação e os sentidos permitindo-nos interagir com ela de várias maneiras e inundando-nos de azul.

Num país jovem como o nosso tanto a memória como a história são constantemente contestadas, muitas vezes re-escritas e outras tantas ficcionadas. Esse movimento é ainda vivo pois há protagonistas vivos e os resquícios são ainda vividos por todos, algumas vezes guardados em álbuns e caixas que servem de prova contra a historiografia oficial. Mas a memória não é apenas tudo o que nos lembramos, e feita também dos vazios e dos esquecimentos, de como preenchemos esse esquecimento. A memória é um espaço de imaginação que vive das emoções que ecoam dos factos vividos, a capacidade física de lembrar e a necessidade de esquecer numa relação dialógica que se estabelece com o presente e a tentativa de construir um futuro.

Esta exposição é desafiante pelo tanto que exige do observador, pois todo o nosso corpo interage com a obra. Contudo é-o também no plano de construção e implicações da produção de arte. Ao trabalho de pesquisa e concepção da artista, seguiu-se um workshop e formação de costura artística na Academia do Empreendedor do Governo Provincial de Luanda na Via Expressa que utilizou material patrocinado pela Textang. A oficina durou 4 semanas e formou 10 técnicos. O projecto resulta assim de uma rede que directamente cria impacto social e económico num grande número de pessoas. E evidencia a necessidade da arte assumir esse papel de responsabilidade no meio em que está inserida e por outro lado assumir-se como um agente económico num país que nega a relevância do sector remetendo-o para o espaço de entretenimento ou folclore.

Suzana Sousa 

Curadora

Biografia da artista